Voltei para casa com um sentimento de dever cumprido, queria contar logo a Cristina sobre a promoção. Mas ao mesmo tempo eu tinha medo de como ela reagiria. E as crianças? Ter que deixar a escola, os amigos, primos, tudo, pra morar do outro lado do mundo, aprender a falar uma nova língua, e tudo isso por um tempo indeterminado. De repente, a euforia foi substituída por um sentimento de arrependimento, um aperto no coração. A decisão já tinha sido tomada e eu não podia mais voltar atrás. Sr. Albert contava comigo, eu era a pessoa de confiança da empresa. Eu era o seu braço direito.
***
Já era tarde, todas as luzes da casa estavam apagadas, exceto a luz da garagem, que permanecia acesa todas as noites e só era apaga por mim, ao sair pela manhã a caminho do trabalho. Há alguns meses os assaltos eram constantes naquela região e fomos orientados pela empresa que nos prestava um serviço de segurança a sempre deixar alguma das luzes da casa acesas, mesmo quando ela estivesse vazia.
Olhei para frente, a rua seguia escura por causa das grandes árvores que pela manhã tornavam o lugar, ao meu ver, um pedaço do paraíso. Procurei por algum movimento incomum, nada. Acionei o portão alguns metros antes de chegar na calçada. O barulho do motor elétrico parecia um mantra, cortando por alguns instantes o silêncio da noite.
Respirei fundo, tentando imaginar a melhor maneira de dar a notícia a Cristina, e entrei com o carro na garagem. O carro de Cristina estava no lugar de sempre e mais uma vez com a porta entreaberta. Cristina costuma fechar a porta do seu carro com tanta delicadeza que não era raro encontrá-la como estava. Depois de fechar a porta do carro de Cristina e verificar se o meu próprio carro estava trancado, caminho em direção da porta.
Coloco a chave na fechadura e ao rodá-la percebo que não estava trancada. – Ela não aprende mesmo, onde anda com a cabeça... – penso ao abrir a porta. Deixo minhas chaves em uma mesinha, ao lado da entrada. Atravesso a sala no escuro, descobrindo com as mãos o melhor caminho, subo as escadas tentando fazer o mínimo de barulho possível. Definitivamente aquela não seria a melhor hora para dar a notícia à Cristina. Melhor ir dormir e esperar para dar a notícia no café da manhã, quando todos estivessem presentes, assim eu evitaria também uma reação exagerada de Cristina por estar na presença dos nossos filhos.
Abro a porta do quarto com delicadeza e precisão, não faço nenhum barulho até agora. O quarto estava totalmente escuro, apenas uma luz, que vinha debaixo da porta do banheiro, iluminava parcialmente a cama. Forço um poucos os olhos e percebo que Cristina não estava deitada. De repente uma porta se abre, fico cego com a claridade. Vejo uma sombra vindo em minha direção com algo na mão, um revólver! Tento me defender pulando para trás da cama. Deitado no chão ouço a voz de Cristina:
- Pelo amor de Deus, Jorge! – a luz se acende. Levanto a cabeça e vejo Cristina, sem roupas, pálida, uma expressão de horror dominava seu rosto. Procuro o agressor e não encontro ninguém, vejo apenas Cristina, nua, vindo em minha direção... com um secador de cabelos na mão.
Continua...
quinta-feira, 12 de maio de 2005
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