terça-feira, 15 de maio de 2007

Ioga sem roupa

Como o hábito fazer exercícios e meditar nu ganha adeptos nos Estados Unidos
Ricardo Moreno, de Nova York

TODO MUNDO NUA professora Britt e os alunosde uma das dez escolas emque se pratica ioga despido nos Estados Unidos. No verão, as matrículas dobram


Há três anos, o teólogo George Monty Davis ganhou na Justiça americana o direito de praticar ioga sem roupa nos parques de São Francisco, na Costa Oeste dos Estados Unidos. A decisão transformou o liberal iogue de 60 anos em celebridade nacional. Davis até anunciou que pretende se candidatar a prefeito. Sua popularidade despertou no país um novo tipo de culto ao corpo. Praticar ioga nu deixou de ser visto como coisa de excêntricos e vem ganhando adeptos.



É o que se vê nas aulas dadas em Nova York por Britt McMurray, de 33 anos. "Famílias inteiras me procuram. Só me recuso a receber menores de 18 anos", afirma. Britt coordena a escola Gaia Tree House. Fundada há dois anos, é a única de Nova York que mescla homens e mulheres nus na mesma aula. Apesar de as reuniões serem mistas, a grande maioria dos participantes é do sexo masculino. São oito homens para cada mulher. "Elas ainda têm muito preconceito com o próprio corpo e não se sentem confortáveis para tirar a roupa na frente dos outros se não estão totalmente em forma", diz Britt. Ela afirma não ter vergonha nenhuma.

Os Estados Unidos têm atualmente 15 milhões de praticantes de ioga. Desses, apenas mil fazem aulas despidos nas dez escolas do país que aderiram à modalidade. A idéia surgiu há três décadas, mas foi de cinco anos para cá que ganhou mais adeptos. É mais praticada na Califórnia, onde as leis são bem tolerantes em relação à nudez. Desde que não "promova atos obscenos ou atrapalhe o trânsito", qualquer pessoa pode andar pelada nas ruas do Estado governado por Arnold Schwarzenegger. Já em Nova York, quem tira a roupa em público pode ir para a cadeia. Portanto, nada de praticar ioga nu no Central Park. Os alunos se reúnem em salões adaptados de antigas fábricas, ou lofts. É num deles que funciona a escola Gaia, no 8º andar de um prédio da Rua 18, a duas quadras da Union Square, um dos lugares mais movimentados de Manhattan. Ali, a linha seguida é a ishta ioga, desenvolvida pelo sul-africano Alan Finger e que mescla a filosofia de outras vertentes, como a hatha, a tantra e a aiurveda.

Com a proximidade do verão no Hemisfério Norte, Britt prevê que o número de interessados dobre. Atualmente, ela promove dois encontros semanais, com oito alunos cada um. São empresários, jornalistas, bancários, artistas e profissionais liberais que gostam de estar nus e desembolsam R$ 35 por aula.

A prática de ioga sem roupa não está baseada em nenhuma filosofia ou objetivo específico. Despir-se não significa chegar mais próximo do nirvana, o estado de beatitude e felicidade almejado pelos indianos mais espiritualizados. Em Nova York, ao que tudo indica, os alunos que optam por fazer aulas nus parecem estar interessados em transgredir as próprias barreiras morais. "Ainda existe muito preconceito em relação a esse tipo de atividade. Trabalho de terno e gravata e tenho certeza de que meus chefes e clientes não ficariam felizes em saber que duas vezes por semana eu saio do escritório para ficar me contorcendo pelado", afirma um dos alunos da Gaia.

Mas, além de fazer às escondidas algo que incomoda o chefe, qual é a graça de tirar a roupa para fazer ioga? "Para mim, cria um fluxo entre corpo e mente." Seja qual for a motivação dos praticantes, eles afirmam que o simples fato de abolir as roupas torna a ioga mais estimulante.

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