segunda-feira, 11 de dezembro de 2006

Nudez divide alemães

Quando os termômetros acusam altas temperaturas, cresce o número de corpos nus expostos em praias e parques públicos da Alemanha. As opiniões sobre o nudismo diferem no leste e oeste do país.

"Um dos nossos objetivos é mostrar que os alemães não só usam Lederhosen (as calças de couro típicas da Baviera), mas muito freqüentemente não usam é nada", explica Wolfgang Weinreich em tom de brincadeira. Vice-presidente da Associação Alemã da Cultura do Corpo Livre, Weinreich torna-se um homem ocupadíssimo no auge do verão, pois a associação que preside conta com 60 mil membros e um total de 160 clubes de nudistas.

Weinreich, que também é presidente da Federação Internacional dos Naturistas, está de malas prontas para o Congresso Anual dos Naturistas, que se realiza na Flórida, em agosto: "Cada movimento nacional tem seu caráter específico, mas temos um alvo em comum, o de fazer com que o nudismo seja aceito em um número cada vez maior de lugares".



Tradição - No verão, corpos nus são comuns nas piscinas, praias e parques alemães. De acordo com Weinreich, cerca de dez milhões de pessoas tiram a roupa pelo menos uma ou duas vezes durante os meses quentes de verão. Entre os europeus, os alemães foram, inclusive, os pioneiros na questão do striptease em público - um fenômeno que, segundo Weinreich, tem suas raízes na Berlim do século 19.

"Nos primórdios da era industrial, com o processo contínuo de alienação do homem em relação à natureza, os berlinenses começaram a fugir em direção aos lagos que circundam a cidade e deram início, assim, ao costume de banharem-se nus", conta Weinreich. Não demorou muito e outros europeus ficaram sabendo daquele "escândalo histórico" também introduziram o nudismo em seus países. A partir daí, o movimento dos naturistas começou a crescer em toda a Europa.

Nazismo - Na Alemanha, no entanto, o movimento foi sufocado em 1933, quando os nazistas tomaram o poder e baniram o nudismo do país. Após a Segunda Guerra Mundial, foi com a ajuda dos ingleses que os nudistas voltaram à ação, através de um "major britânico que assinou simbolicamente uma aprovação oficial". A partir de então, o número de nudistas cresceu gradualmente no país. O maior número de adeptos foi atingido há dez anos, com cerca de 70 mil naturistas registrados.

Na última década, o número caiu para apenas dez mil. Segundo Weinreich, no entanto, há de se considerar que o nudismo é praticado ocasionalmente por cerca de 10 milhões. De qualquer forma, o número de naturistas ainda é bastante alto na Alemanha, principalmente nos meses de verão. Do Báltico ao Mar do Norte, há diversas praias com o símbolo FKK, a abreviatura alemã de Cultura do Corpo Livre (Freie Körper Kultur). Entre os 600 mil veranistas na turística Ilha de Sylt, estima-se que 200 mil pratiquem o nudismo.

Leste & Oeste – Mas nem tudo é sol e praia no mundo dos peladões. Há uns anos, o tema deu o que falar e a temperatura esquentou. Alemães ocidentais reclamaram que a tendência de seus conterrâneos do leste do país à prática do nudismo estava indo longe demais. O debate foi travado na costa do Mar Báltico, região pertencente à ex-Alemanha Oriental antes da queda do Muro de Berlim.

Os wessis, como são chamados os alemães ocidentais, reivindicaram a separação de praias destinadas ao nudismo, alegando que queriam passar suas férias em paz, "sem ter que ficar admirando os genitais dos alemães orientais", conhecidos como ossis. Não seria lógico esperar que turistas esnobes fossem à praia sem roupa. "Na Alemanha Oriental, no entanto, andar nu era uma coisa completamente normal", explica Weinreich.

Liberdade - Embora tenha sido uma sociedade marcada pela repressão à liberdade individual em vários aspectos, a ex-Alemanha Oriental, de regime comunista, sempre manteve uma posição liberal em relação à nudez. Pessoas que sofreram sob o comunismo costumam ironizar que andar nu era a única liberdade real que os alemães orientais possuiam.

Hoje em dia, os ossis têm que se contentar com as praias destinadas exclusivamente à "cultura do corpo livre", quase sempre localizadas longe dos centros turísticos. A questão do nudismo, entretanto, continua sendo um assunto quente entre os alemães. No conhecido English Garden, na região central de Munique, nudistas que se bronzeavam causaram recentemente uma acirrada disputa sobre o tema.

"Nosso principal objetivo é aumentar cada vez mais o número de locais em que o nudismo é permitido, o que não significa que incentivemos as pessoas a tirar a roupa em lugares públicos", observa Weinreich. A Associação Alemã para a Cultura Livre do Corpo, segundo ele, procura, no momento, mais lugares em que os nudistas possam se encontrar em paz, sem incomodar aqueles "que podem vir a se sentir ofendidos pelos corpos expostos".

Congresso – Saúde e meio ambiente são os tópicos mais importantes a serem debatidos pelos delegados das associações de nudistas de todo o mundo, reunidos na Flórida neste mês de agosto. O congresso, organizado pela Federação Internacional dos Naturistas, é, segundo Weinreich, completamente democrático: "A grande coisa entre os nudistas é a união e a igualdade. Não importa de onde venha, o nudista nunca vai poder exibir seu mais novo terno Brioni ou seu Rolex brilhante. Entre os nudistas, não há fronteiras nacionais nem diferença de classes".

Apesar dos ideais democráticos, um dos mais novos membros do clube de nudismo inglês - que trabalha em parceria com o de Weinreich, em Bonn - é um verdadeiro gentleman, agraciado há pouco com um título de nobreza pela rainha da Inglaterra.

Alemanha | 05.08.2002

Artigo original em DW-World.de

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