Publicado no site Estadão
Segunda-Feira, 08 de Outubro de 2007
Márcia Vieira, RIO
Associação de Naturismo acusa "forasteiros" de fazer sexo e até gravar filmes pornô na área
A Associação de Naturismo de Abricó, uma das oito áreas de nudismo do Brasil, briga para moralizar a praia, na zona oeste do Rio. Os adeptos do direito de tirar a roupa se sentem agredidos pelo número cada vez maior de pessoas que usam os 250 metros de extensão da praia reservados ao nudismo para manter relações sexuais. Os naturistas não admitem sexo nem drogas no seu pequeno paraíso. Para manter a ordem, colocaram dois seguranças na praia de sexta-feira a domingo. Mas nos outros dias acontece de tudo. "Até filmagem de fita pornô", lamenta Pedro Ribeiro, de 50 anos, presidente da associação. Os naturistas já apelaram para a Guarda Civil e para a Polícia Militar, mas não conseguiram inibir os abusos.
"A gente precisa de policiamento para ajudar a coibir esses abusos. Já mandei ofício para a PM, para a Guarda Civil, para a Secretaria de Meio Ambiente", reclama Ribeiro, professor de uma escola pública. "Nudez não é sinônimo de libertinagem." Seus apelos foram, no entanto, ignorados.
A Praia de Abricó tem 800 metros de extensão. Fica dentro do Parque Municipal Ecológico do Grumari, a 40 minutos de Copacabana. Cercada de muito verde e pedras, fica protegida dos olhares indiscretos de quem passa na rua em frente. Por causa dessa localização privilegiada, foi escolhida para virar praia de nudismo.
E o aval veio em 1994, com um decreto da prefeitura que estabeleceu que seus 250 metros seriam reservados à prática. Houve protestos e recursos jurídicos, mas em 2005 o Superior Tribunal de Justiça (STJ) garantiu a criação da área.
De tempos em tempos, a associação tem problemas com casais mais animados. Ou com homens que entram vestidos no trecho de nudismo e provocam os que estão sem roupa. Nessas horas, os dois orientadores da associação entram em ação. Às vezes, a advertência acaba em bate-boca. "O orientador explica, argumenta, mas, quando a pessoa diz que vai continuar ali, a gente chama a polícia", conta Pedro. Da última vez, os policiais demoraram três horas.
Há duas semanas, Pedro teve de chamar a atenção de um suíço, já cinqüentão, que passeava com a mulher. O casal estava nu à beira da praia, mas o problema não era bem esse. "Ele estava tendo uma ereção. Não pode. Falei gentilmente que ele deveria pensar em outra coisa, na sogra, por exemplo, ou dar um mergulho na água fria, até se recompor."
Na maioria das vezes, as confusões envolvem quem entra vestido. Por isso, quem está de roupa só tem duas alternativas: ficar nu ou ir embora. "Misto não funciona. Tem que ser todo mundo nu ou todo mundo com roupa", defende Ribeiro.
Em 2 de dezembro de 1994, primeiro fim de semana de Abricó como praia oficial de nudismo, o sistema misto já deu briga: uma senhora escandalizada xingou os nudistas e um banhista, vestido, atacou outro, pelado, com um espeto de churrasco. Naturistas reagiram e houve sopapos generalizados.
São os naturistas que recolhem o lixo e mantêm a sinalização na areia. Num fim de semana de praia cheia, a vizinha Grumari termina lotada de sacos plásticos e garrafas. A do Abricó fica limpíssima.
"A nudez ajuda o homem a se mostrar como ele realmente é. Você não é o que você está vestindo. Você está nu", define Ribeiro, naturista desde os 14 anos. "Na França é tranqüilo. Em Marbella, na Espanha, o trecho de nudismo é muito civilizado e pacífico. Não tem essa agressividade que a gente vê aqui no Rio."
segunda-feira, 8 de outubro de 2007
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