terça-feira, 13 de março de 2007

Cultura do Corpo - Alemanha

Trecho de entrevista de uma alemã residente nos EUA dada à uma revista americana.

NETTERFIELD: Existe uma diferença singular na Körperkultur (atitude com relação ao corpo) entre a Alemanha e os EUA. Às vezes eu tenho que me perguntar, “Isso é decoro ou pudor?” Por exemplo, ir à sauna na Alemanha é uma experiência totalmente diferente do que nos EUA. Quando eu conheci meu marido, ele só estava na Alemanha havia poucos meses. Num final de semana eu o levei à uma sauna em Bad Dürkheim, uma cidadezinha cuja renda principal vem dos spas. A sauna fica sob uma piscina, do lado do famoso Dürkheimer Riesenfaß (barril de vinho gigante em Dürkheim). Nós descemos com nossas roupas de banho e quando eu cheguei lá embaixo comecei a tirar meu maiô para ficar nua com todas as outras pessoas. Nada de mais. O que eu não percebi foi que meu marido começou a olhar em volta, ele nunca tinha visto pessoas de ambos os sexos andando nuas – como se não houvesse coisa mais natural no mundo todo. Ele começou a tirar a roupa para se misturar e eu nunca notei que ele talvez estivesse um pouco envergonhado por nunca ter feito uma coisa daquelas antes. Eu só descobri anos depois que ele escreveu uma carta ao escritório descrevendo o incidente e fez todos morrerem de rir quando disse que continuou procurando pelo violão depois que ele tirou a roupa, como no filme da Pantera Cor-de-rosa A Shot in the Dark com Peter Sellers e Elke Sommer no qual eles estão em uma colônia de nudismo e depois que Sellers tira as roupas ele continua segurando um violão na sua frente. Só que lá não havia nenhum violão.

Ele foi muito corajoso, não me contando que aquela foi sua primeira experiência numa situação parecida. As saunas aqui nos EUA normalmente são frequentadas por pessoas usando roupas de banho. Eu até já encontrei uma pessoa usando uma “sweat suit” — mangas compridas e calças compridas. Eu quase fiquei cega ao ver aquilo.

GW&M: E o que você conta sobre os médicos?

NETTERFIELD: Ir à um ginecologista nos EUA também é uma experiência totalmente diferente. Na Alemanha você só tira sua roupa – toda a roupa – e fica na frente do médico como a natureza te criou. Ele irá então examinar seus seios para ver se existem nódulos e depois pedir para que você se sente na cadeira com aqueles apoios. Aqui (EUA), primeiro eles lhe darão um robe de papel com uma faixa e uma coberta de papel para você se cobrir. O médico irá te examinar apenas se houver uma assintente na sala, com medo de processos, eu acho. Você precisa se deitar na cadeira com o robe de papel e a coberta cobrindo suas pernas. O que é isso? O médico continuará tendo que olhar para você para te examinar, então para que serve essa ilusão de que você está cobrindo alguma coisa? Ele continuará tocando os seus seios procurando por nódulos, mesmo que ele faça isso por baixo do papel. Não é como se ele nunca tivesse visto uma mulher nua antes. Eu acho que esse cobertor ajuda algumas mulheres a superar esse tipo de experiência embaraçosa.

Meu médico aqui (EUA) também tem pequenas bonecas cobrindo os apoios para que eles não fiquem tão gelados. Você acredita nisso? As bonecas parecem a Pippi Longstocking com cabelos trançados feitos de palha vermelha. Bonitinhas, mas engraçadas. Eu sei que na Alemanha eles iriam insistir em um ambiente mais estéril. Não que aqui (EUA) não seja limpo, você entende o que eu quero dizer.

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