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O repórter tira ou não tira a roupa?
Pedro Doria
.. | Na segunda-feira, último dia de janeiro de 2005, pouco antes do carnaval, cheguei à Colina para fazer um perfil da única cidadezinha da América Latina onde as pessoas andam nuas. Estava já há pouco mais de seis meses dedicado a uma série de reportagens sobre comportamento sexual e foi numa destas, entrevistando o fotógrafo norueguês Petter Hegre, que soube da existência da comunidade. Custou um mês negociando, telefonemas constantes e um longo email de apresentação.
Estava apreensivo. Sabia que, na área residencial, a nudez não era obrigatória, por conta de os moradores receberem visitas que não necessariamente são nudistas. Mas sabia também que, para conhecer todo o lugar, me despir seria inevitável. E o prefeito local, Colin Peter Collins, já havia deixado claro no primeiro telefonema que, se eu esperava conversar com as pessoas e ouvir suas histórias, deveria me comportar como todos.
Ao aterrissar no Aeroporto Salgado Filho, em Porto Alegre, fui recebido por Fritz Louderback, que coincidentemente esperava dois hóspedes norte-americanos que chegariam aproximadamente no mesmo horário. Na Colina, após o registro na recepção, segui ao hotel e decidi vestir um short, colocando máquina fotográfica, blocos de notas, canetas e lapiseira numa mochila. Collins me recebeu menos de uma hora depois, para um tour a pé pela propriedade. Ao entrar numa área onde as placas vermelhas exigiam nudez total, o coordenador não pediu nada – só após alguns minutos é que achei por bem perguntar se devia me livrar da roupa. "Seria conveniente", ele respondeu com altivez britânica. Mas foi tornarem à área residencial que de presto me vestiu novamente.
A primeira entrevista, com Eta e sua mulher Verônica, à porta de sua lojinha de souvenires, conduzi vestido. Conversamos por mais de hora sem que o casal mencionasse o fato. Quando a história que contavam chegou ao ponto da primeira vez em que se despiram, comentei com Eta que havia de ser difícil o auto-controle, afinal, "com tanta mulher circulando por aí". Ele riu e respondeu que todo mundo acabava se acostumando. Verônica completou, confiante: "Você vai ver." Após um novo tour, no qual fui apresentado a diversos moradores, tornei ao hotel para um chuveirada – estava seco e quente, muito quente, na Colina. Ao sair do banho, calcei meias e tênis, peguei a mochila e prossegui com seu trabalho. Fazia pouco mais de quatro horas que havia chegado.
Ao anoitecer de seu segundo dia de reportagem, quando finalmente uma chuva miúda veio salvar os gramados e derrubar a temperatura, quase lamentei a necessidade de me vestir por conta do frio. Só Jorge, o alemão, continuou nu na Colina do Sol.
Publicaremos a matéria todo em capítulos. Aguardem!
quinta-feira, 10 de fevereiro de 2005
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