quinta-feira, 10 de fevereiro de 2005

Parte VII - Prefeito inglês

Matéria realizada pelo repórter Pedro Dória, do site no mínimo.


Prefeito inglês

Ao longo do tempo, mudanças estruturais foram ocorrendo na gerência da Colina do Sol. Foi a mudança do Código Civil, no entanto, que finalmente forçou uma mudança nos estatutos, abrindo para cada residente ou sócio um voto e não mais que isso. Antes, no entanto, ao longo de 2004, um brasileiro residente nos EUA comprou um bom naco da parte de Celso e Paula, para distribuir os poderes e fazer com que mais dinheiro viesse para a administração. Quando o investimento do casal foi reposto, eles decidiram deixar a comunidade, em abril do ano passado.

Era um rompimento traumático, mas a presença dos fundadores continua em todas as conversas e talvez nunca deixe de estar. Depois de tanto tempo, são lembrados mais com admiração do que rancor. Foi com sua saída que o Conselho Deliberativo, formado por eleição com sete titulares e dois suplentes, ganhou mais poderes. O mais votado, Colin Peter Collins, foi escolhido para coordenador, o que equivale mais ou menos ao cargo de prefeito.

Collins tem 61 anos, é um inglês alto e magro que, mesmo há quatro décadas no Brasil, casado com a cearense Marlene há 18 anos, ainda mantém um porte aristocrático de todo britânico, sua fala pausada – pensa antes de encaixar cada palavra numa frase e não se priva de reformular um argumento em prol da clareza. Quando criança na Inglaterra do pós-guerra, não sabia que havia algo como naturismo mas, se tinha a oportunidade de deixar as paredes do colégio interno, caminhava na floresta até algum canto remoto onde se despia. "Era algo totalmente espontâneo que eu não ousava contar nem para minha mãe, mas assim me sentia bem." É obsessivo com regras de conduta.

"Você veja, parece que o clube tem muita norma, mas as normas daqui são as mesmas normas que existem lá fora, embora nem sempre sejam seguidas. Na colina, tomamos muito cuidado com nossos vizinhos, precisamos nos respeitar até por estarmos mais expostos. Se há uma criança na rua, sempre alguém está observando para que não se machuque. À noite, não ouvimos barulho de uma cabana vizinha. No fundo, a roupa serve para camuflar a pessoa que temos dentro e, após certo tempo, você não vê mais a pessoa nua. É igual militar, sempre com a mesma roupa. Se tomamos cuidado com qualquer conotação sexual, não pode dançar junto a não ser vestido, não pode trocar carícias, é porque, principalmente, não pode haver qualquer mal-entendido. Conservadores. Esta é a palavra adequada, devemos ser conservadores."

Collins lidera cautelosamente a Colina por um período de transição, quando nos próximos meses o novo estatuto, que elevará para nove o número de conselheiros, será aprovado. É um momento crítico para que salte finalmente de clube para cidadezinha auto-sustentável. A área toda já é coberta por acesso à Internet com banda larga sem fio, wi-fi, um sistema organizado pelo gaúcho Sergio Quednau, 40 anos, que revende licenças de uso por 99,99 reais ao mês. Agora, planeja oferecer também um sistema de voz sobre IP, com interface no computador, mas também, para quem quiser, pelo telefone, o pesadelo de toda companhia de telecomunicações. "Mas não basta esta conexão virtual", ele explica, "precisamos também de transporte, como já houve, entre a Colina e Porto Alegre, para que as pessoas possam trabalhar e voltar à noite." Vários trabalham na capital e usam suas cabanas na Colina como casa de fim de semana, mas, aumentada a infra-estrutura, cogitariam mudar-se de vez.


Colin Peter Collins, o "prefeito" britânico


Próxima parte - Como um velho subúrbio americano

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