quinta-feira, 10 de fevereiro de 2005

Parte Final - Como um velho subúrbio americano

Matéria realizada pelo repórter Pedro Dória, do site no mínimo.


Como um velho subúrbio americano

O empurrão para o crescimento é disparado em parte por Fritz Louderback e Barbara Anner, um casal de californianos que se mudou para a Colina em 1999. Na época, ambos se aproveitaram de mudanças nas regras, que permitiam a compra de mais de um lote para que as cabanas, embora seguindo o mesmo padrão, pudessem ultrapassar a cota de 100 metros quadrados, erguendo casarões confortáveis.

Foram dos primeiros a construir na segunda asa residencial, onde bichos de estimação são permitidos. "Americanos gostam de bichos, então é por isso que eles costumam vir para cá." Embora nem todos sejam estrangeiros ali, o canto ficou conhecido na comunidade como Vila dos Americanos e, com seus largos gramados interrompidos por casas espaçosas, bem lembra a organização de um típico subúrbio dos EUA dos anos 50.

Os pais de Fritz, que hoje tem 61 anos, eram naturistas, como são seus filhos e os de Barbara. Dedicou-se durante 24 anos como piloto de caça à Marinha norte-americana, trouxe do Vietnã uma medalha Purple Heart, concedida aos feridos em batalha, e, ao entrar na reserva no posto de comandante, comprou uma empresa de software que prestava serviços ao Pentágono. Depois de 15 anos, vendeu o negócio para a British Aerospace e aposentou-se com Barbara, então diretora da Associação Norte Americana de Naturistas. Ao requerer no Consulado de Palm Beach o visto de residente aposentado, decidiram alistar também o tio de Fritz, Barney, 89 anos, que, no último aniversário, largou enfim sua motocicleta. Comprou um buggy.

Na cabana do casal, funciona o Dois Amigos Bed and Breakfast, albergue que recebe um casal ou dois por vez, às vezes americanos que não falam português, outras tantas alemães, mas também escoceses, israelenses, franceses. Eles enviam DVDs sobre a Colina do Sol para todos os que procuram seu site, uns 40 ou 50 todo ano. Destes, pelo menos metade faz uma visita, dez entram de sócios para o clube e, todo ano, Fritz termina construindo duas casas para quem quer se aposentar ali. Com a escalada do custo de vida nos EUA e Europa e o achatamento das aposentadorias pagas pelos sistemas públicos de previdência, a moeda forte que vale pouco no exterior tem grande peso no Brasil e, principalmente, na Colina, onde as coisas são muito baratas. Por toda a parte há casas em construção.

O dinheiro arrecadado por Fritz e Barbara é reinvestido na Colina, na constante reforma da estrada de terra e no cuidado de crianças das redondezas com problemas físicos que requerem atenção nos EUA, concedida pela rede de hospitais maçônicos Shriners. Para uma menina que vive na Colina e não tem as mãos por conta de um problema de nascença, Fritz certa vez conseguiu carona num avião da Força Aérea norte-americana.

Outro destino do Fundo Dois Amigos, engordado por doações de entidades e indivíduos naturistas de toda parte, é o natal das crianças de Morro do Céu. Uma caravana puxada por Tuca do camping e Raul do mercado, no último dezembro, levou 2.000 brinquedos e um Papai Noel.

O pulo do gato para a sustentabilidade da Colina é reconhecer a vocação turística. Para isto, é preciso que o Hotel Ocara seja terminado – apenas uma ala, de trinta quartos, está pronta. Segundo o projeto, ele terá forma de U, ganhando um segundo braço de mesmo tamanho e, no miolo, funcionará uma área coberta para recreação de inverno, como piscina de vôlei aquático, um dos esportes favoritos entre naturistas no exterior. As obras, no entanto, estão empacadas por conta das dificuldades brasileiras de financiamento.


A Vila dos Americanos: cara de subúrbio dos EUA

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