Publicado no site Deutsche Welle
Cultura 15.07.2007
Os livros infantis da autora e ilustradora Rotraut Susanne Berner são bem conhecidos pelo mundo, mas não serão publicados nos EUA. Berner não cedeu às pressões da editora americana, que queria censurar as ilustrações.
Detalhe da ilustração do livro de Berner, censurado nos EUA
Como os livros alemães – e publicações infantis não são exceção – quase não têm espaço no mercado editorial norte-americano, a editora de Hildesheim Gerstenberg Verlag deu pulos de felicidade ao receber uma proposta da Boyd Mills Press. Tratava-se da publicação dos livros ilustrados de Rotraut Susanne Berner nos Estados Unidos.
A editora americana tinha, no entanto, algumas exigências a fazer para adequar as ilustrações a seus pequenos leitores. Rotraut Berner se mostrou disposta a considerar os pedidos da Boyd, até que parou para ouvir quais eram os pequenos detalhes a ser modificados.
Onde está o pênis?
A autora precisou, primeiro, rir dos pedidos. Mas eles eram realmente sérios. A Boyd Mills Press queria exigir que a premiada autora e ilustradora alemã retirasse de suas ilustrações, além de alguns fumantes, um quadro com nu feminino e uma estátua de 7,5 milímetros de um homem nu.
São detalhes quase imperceptíveis em movimentadas cenas do cotidiano, ilustradas por Berner. No último andar de um edifício, a ilustradora desenhou, em aquarela, uma exposição de arte, e dentre as obras estão o nu feminino em forma de pintura e a estátua masculina com o "pintinho", palavra da autora. O motivo da discórdia tem menos de meio milímetro de comprimento.
O pedido da editora americana foi meramente comercial, segundo depoimento da autora para a imprensa alemã. O editor teria repetido que a situação era um tanto embaraçosa para ele, mas ele precisava fazer as exigências. Caso contrário, certas pessoas impediriam que o livro chegasse a algumas livrarias e bibliotecas.
Em fevereiro deste ano, algumas bibliotecas americanas baniram de suas estantes um livro infantil premiado, porque na primeira página aparecia a palavra scrotum (escroto). Antes disso, um volume do best-seller Harry Potter já entrara na linha de fogo dos autodenominados os guardiões da moral e dos bons costumes.
A autora disse que talvez pudesse ter aceitado "tarjas pretas sobre suas ilustrações", mas uma censura invisível estava fora de cogitação. "Se é para haver censura, as pessoas devem poder reconhecê-la", disse à Berner à revista Spiegel. No entanto os americanos rejeitaram uma autodenúncia da censura,.
Bildunterschrift: A estátua de 7,5 mm e o 'pênis da discórdia' que, no livro, é pouco mais do que um borrãoEditora respeita decisão da artista
A editora de Hildesheim não pôde estourar o champanhe por causa do grande negócio, e as criancinhas americanas foram protegidas de grandes danos. A editora, que perdeu um grande negócio, disse entender a decisão de Berner. "Nós a valorizamos como artista e respeitamos sua decisão", disse Andrea Deyerling, porta-voz da editora à agência de notícias DPA.
Mesmo sem a publicação nos Estados Unidos, o livro de Rotraut Susanne Berner continua bem sucedido. Até agora, os quatro volumes em série, um para cada estação do ano, já venderam 250.000 exemplares na Alemanha e 130.000 no exterior. Entre os 13 países em que os livros de Berner se tornaram bestsellers estão o Japão, a Suécia e as Ilhas Faroé.
As ilustrações feitas por Berner são tão detalhadas que parecem que vão explodir de informações e pessoas. Nas páginas, cenas de estações de trem, mercados e piscinas públicas, sempre há algo de novo a se descobrir. Os cigarros e cachimbos que a ilustradora também teria que apagar do livro se quisesse vendê-lo nos EUA, estão nas mãos de alguns dos mais de 80 bonecos do desenho em questão. Só depois de um estudo detalhado da página é possível percebê-los, ao contrário de três freiras, que aparecem em destaque na mesma cena.
Até agora, nenhum dos países pediu que partes do corpo fossem retiradas dos desenhos ou fez qualquer censura às ilustrações. Só a Suécia reclamou da pouca mais neve, no volume da série dedicado ao inverno. (jl)
domingo, 15 de julho de 2007
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